SAUDADES DO BRASIL

"Finados"


Não se caça nem se pesca no dia 2 de novembro, dia dos Mortos. As superstições portuguesas, proibições e respeitos do dia dos Finados continuam em todo o Brasil, especialmente entre as populações do interior e das praias. As assombrações e cortejos fúnebres, visitas macabras de esqueletos e caveiras pertencem a esse dia simbólico. As almas dos afogados passeiam por cima das águas do mar e dos açudes espalhando pavor. É o dia em que as almas visitam os lugares onde viveram ou foram assassinados seus corpos. Nas horas abertas é preciso ter-se coragem para atravessar os sítios onde houve morte de homem e mesmo as encruzilhadas e cantos sombrios. A comemoração Omnium Fidelium Defunctorum, datada do século X, mantém tradição imemorial em todos os cultos religiosos.
A decoração dos túmulos e a visita aos cemitérios ambientam, no espírito popular, crendices incontáveis. As sepulturas são cobertas de flores, com exibição de castiçais de prata, velas acesas, outrora guardadas, o dia inteiro pelos escravos fiéis (Melo Morais Filho. Festas e tradições populares do Brasil, o "Dia de Finados"). Os negros iorubanos realizavam os adamorixás funerais com preces, cantos e danças. Noutros lugares as refeições fúnebres tinham cerimonial impressionante pela compostura e silêncio dos componentes. Melo Morais Filho (opus cit.) registrou a "Festa dos Mortos" em Alagoas e Rio de Janeiro, constando de bailados, jejuns, sacrifícios de animais e banquetes.
(CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura / Instituto Nacional do Livro, 1954.)